Welcome To Hell

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Me desculpe " "



"A sensatez implica em uma opinião contrária àqueles que dizem ser a clonagem do Homem um ardil aético e sacrilégico. Com efeito, faz-se necessário que se mantenha o controle do número de pessoas a serem clonadas. Aliás, um único indivíduo deve ser clonado: Paulo Coelho.
Um conselho sensato ao governo brasileiro seria o de que Brasília deve começar a bajular o geneticista italiano Severino Antinori, bem como sua equipe de gênios e outros loucos empenhados em produzir uma cópia idêntica do ser humano. Temos que fazer com que eles clonem Paulo Coelho! O mago é a solução de todos os nossos problemas!
Uma vez munido de um batalhão de clones de Paulo Coelho, o Brasil não teria mais com o que se preocupar. A escassez pluviométrica agrava a crise energética? Paulo Coelho faz chover! O trânsito em São Paulo anda caótico? Paulo Coelho, com o uso de seus dotes sobrenaturais, abre o trânsito! Mas, mesmo assim, ainda falta capital para prosseguir com os investimentos socio-econômicos...Paulo Coelho sabe como ficar invisível! Assim, ele poderia, sem que fosse notado, ir até as instituições financeiras internacionais e surrupiar alguns bilhões de dólares para que pudéssemos equilibrar nossas finanças!
Paulo Coelho é mesmo um gênio. Faz chover, abre trânsito, fica invisível...falta-lhe tão-somente o bom-senso. Com alguns clones de Paulo Coelho, o Brasil poderia, não obstante, usar o carisma do(s) mago(s) para inserir a audácia na pauta de caráter da sociedade tupiniquim – dificilmente se encontrará alguém mais presunçoso do que o autor de O Alquimista. Sem embargo, criaríamos diversas Academias Municipais de Letras, cada uma presidida por um clone de Paulo Coelho. Não se atesta, com efeito, a qualidade das obras. Mas, afinal, quem se importa com expoentes da excelência literária? Seríamos uma nação próspera! E que nação próspera imprescinde de gênios literários? Poucas. Os Estados Unidos que o digam.
A título de mobilização popular, criaríamos uma organização de defesa à clonagem de Paulo Coelho. FCPC – Fundação “Clonem Paulo Coelho”. Candidato-me, desde já, à presidência da mesma, ao menos até que os clones venham à tona e deponham-me da liderança. Faríamos tal qual em Fahrenheit 451, de Ray Bradbury – lançaríamos numa fogueira de vaidades e bruxarias todos os livros que porventura fossem reprovados pelo “mestre”. Hermann Hesse?! Coelho o considera um escritor tacanho e boçal. Queimemo-o, pois. James Joyce? À fogueira. Victor Hugo? Banido. É Paulo Coelho na Terra e seus magos bisonhos no Céu. Tudo quanto não for aprovado pelo “mestre” e seus clones, lançar-se-á à fogueira.
O Prêmio Nobel de Literatura seria extinto pela razão simplista de que Coelho não aprecia as obras de diversos dos laureados com o título. Jorge Amado seria seu baluarte teórico e mão-direita nos oportunismos. Queimaríamos a Bíblia! O novo Livro Sagrado? O Alquimista, of course. Que se manifeste aquele cuja sugestão for mais coerente.
Toda a base teórico-doutrinária da filosofia ocidental seria destruída, desde os pré-socráticos até Jean-Paul Sartre. Muito naturalmente, o novo baluarte filosófico seria o insosso Nas Margens Do Rio Piedra Sentei E Chorei. Espiritismo?! Para que?! Contentemo-nos com Brida! Quem precisa de Romeu e Julieta quando se tem Diário De Um Mago ?
Numa segunda análise, talvez não lograsse sensatez a precípua atitude de clonar Paulo Coelho. Poderíamos lavrar uma sentença de mediocridade. Coelho e seus clones fariam uso dos mais sórdidos ardis para se perpetuarem na liderança una. E - guarde-me Deus! - quais seriam as reações diante de latrocínios literários cometidos para com as obras de Jorge Luís Borges e William Blake?! É melhor que reflitamos acerca de todos os aspectos, implicações e conseqüências. Clonar ou não clonar Paulo Coelho?
Estou com calor. Paulo Coelho faz ventar. Se tivesse um clone dele à minha disposição, bastaria um estalar de dedos para que eu me refrescasse. Ficar sentado durante muito tempo acaba incomodando. Então por que não levitar?! Paulo Coelho consegue! Inculto que sou, estou lendo uma tragédia grega. Quem tem Veronika Decide Morrer não precisa de Édipo Rei.
Fartei-me. Hei de por termo à pilhéria de malgrados contra a figura do nobre mago (ha ha ha). Coelho não merece tamanha troça e chafurda. Dar-lhe-emos uma chance. Clonemo-o, pois. Todavia, aturde-me tão-somente um fator cuja menção foi, até agora, negligenciada: e quanto aos clones? Muito provavelmente, dedicar-se-ão à arte literária. E entupirão o mercado com títulos como O Alquimista – o retorno e Veronika Decide Ressuscitar.
Ater-me-ei às argumentações, de maneira que não pretendo vaticinar nenhuma decisão. Proponho que a pauta concernente à clonagem de Paulo Coelho seja submetida a escrutínio popular. Realizemos um plesbiscito – Paulo Coelho deve ou não ser clonado? E enviemos, sem embargo, a pauta para que os parlamentares possam discuti-la, e, uma vez que não estejam muito ocupados com o montante de CPI’s, deliberem a respeito.
Joguei pela janela um livro de Edgar Allan Poe e peguei O Demônio e a Srta. Prym. É muito melhor! Paulo Coelho é vanguarda! Sublime! Genial! Shakespeare não é nada! E quanto àqueles ignóbeis e incultos senhores da Academia Brasileira de Letras, que calem a boca e passem a agir de maneira mais sensata, de modo a integrar Paulo Coelho à seara dos imortais. Morte e Vida Severina? Uma asneira. Realidade social transposta para o meio literário é conversa fiada. Bom mesmo é bruxaria fajuta e esoterismo de folhetim. "

Escrito por Lindolpho Cademartori

Nenhum comentário:

Postar um comentário